As nossas almas, feitas de vidro, mas delicadas como a seda, são constantemente arrancadas da realidade comum e colocadas em dimensões antagónicas, que nos forçam a deixá-las quebrar eterna ou temporariamente. O ideal é quando conseguimos, por algum curioso e inesperado meio, colar os cacos de alma de novo e, quem sabe, deixá-los mesmo a brilhar mais do que no início.
Ele entra no café chorando. Senta-se a uma mesa chorando. E deixa-se chorar. Ela não o conhece mas, inevitavelmente, olha para ele. É jovem, bonito, e chora como se estivesse a morrer. Ela levanta-se da sua mesa e vai ter com ele, com esse homem que chora. Ele nem a vê. Não lhe vê as mãos com ternura pousadas em cima da mesa, não lhe vê o sorriso desfeito, nem o seu receio por ele. Ela pergunta o que ele tem, mas ele nem a ouve, está completamente só. Ela repete e, desta vez, ele responde-lhe: Nada, ele não tem nada, ela não precisa de se preocupar, ele está bem. E continua a chorar. Ela sorri: ele tem uma voz doce mas as palavras que solta é que lhe quebram a alma. Ela diz-lhe que gostaria de poder ajudá-lo a deixar de chorar. Ele continua a chorar e não diz nada, nem a ouve. Ela começa a chorar. Pergunta- -lhe se ele sabe que vai morrer ou sente que quer morrer. Ele chora. Não é isso. Pergunta-lhe se não quer voltar para casa. Ele levanta os olhos. É isso! Porque em casa está sozinho? Sim, só. Ele não encontra palavras para manter a conversa. Ela começa a falar sobre si, onde mora, o que faz... mas ele não a ouve. Passado um bocado, deixa de chorar e diz que sofre desalmadamente porque perdeu, se calhar, para sempre, o fulgor duma pessoa que queria continuar a ver e a ter. E explica que tem constantemente este tipo de desgostos...
– Fique comigo! - diz-lhe ele. E ela fica.
Ele entra no café chorando. Senta-se a uma mesa chorando. E deixa-se chorar. Ela não o conhece mas, inevitavelmente, olha para ele. É jovem, bonito, e chora como se estivesse a morrer. Ela levanta-se da sua mesa e vai ter com ele, com esse homem que chora. Ele nem a vê. Não lhe vê as mãos com ternura pousadas em cima da mesa, não lhe vê o sorriso desfeito, nem o seu receio por ele. Ela pergunta o que ele tem, mas ele nem a ouve, está completamente só. Ela repete e, desta vez, ele responde-lhe: Nada, ele não tem nada, ela não precisa de se preocupar, ele está bem. E continua a chorar. Ela sorri: ele tem uma voz doce mas as palavras que solta é que lhe quebram a alma. Ela diz-lhe que gostaria de poder ajudá-lo a deixar de chorar. Ele continua a chorar e não diz nada, nem a ouve. Ela começa a chorar. Pergunta- -lhe se ele sabe que vai morrer ou sente que quer morrer. Ele chora. Não é isso. Pergunta-lhe se não quer voltar para casa. Ele levanta os olhos. É isso! Porque em casa está sozinho? Sim, só. Ele não encontra palavras para manter a conversa. Ela começa a falar sobre si, onde mora, o que faz... mas ele não a ouve. Passado um bocado, deixa de chorar e diz que sofre desalmadamente porque perdeu, se calhar, para sempre, o fulgor duma pessoa que queria continuar a ver e a ter. E explica que tem constantemente este tipo de desgostos...
– Fique comigo! - diz-lhe ele. E ela fica.
Mara Ungureanu, 2005
